Ao chegar, lançou um primeiro olhar sobre a festa. Não a encontrou. Comprimentou a todos, caminhou e com um olhar mais cuidadoso enxergou-a. Talvez não a que ele procurasse. O salto, o cabelo solto, as pernas marcadas pela calça colada denunciavam que aquela não era mais a menina dos olhos cor de mel. Sobre os seus olhos escuros havia uma mulher.
Ela, por sua vez, tentava sentir toda aquela boa sensação; sair de si, como no conto "encarnação involuntária".
Dançava e insinuava-se, pra um, dois, três. Deixava de lado a preocupação com o sentimentalismo, brincava com a vontade dele de beijá-la e mostrava o quanto tinha-o nas mãos. Depois voltava-se com um sorriso doce, remetendo à menina que cantava.
Com o dedo ela misturava a vodka, e a vodka misturava aquelas duas personalidades que habitavam o corpo já cansado.
Aquele hedonismo assustava o garoto. Logo ele, meio puritano. A pele alva ficava cada vez mais vermelha, e o coração acompanhava a batida da música e os movimento corporais da sua musa.
A menina, tão mulher, fazia o garoto sentir-se tão menino, e tão pequeno, e tão triste por não conseguir atravessar o campo de forças que a rodeava quando ela dançava.
No final da festa, veio a vingança pessoal. Aquele corpo que outra hora fazia-se tão grande e causava tanto desejo, era carregado por mais duas meninas.
Ela, rainha, majestade, mulher, agora não conseguia andar. E ele, sentia-se homem simplesmente por estar de pé.